sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O sentido histórico da Segunda Guerra Mundial

O adiamento da revolução socialista mundial — iniciada com a Revolução de Outubro de 1917 — foi pago pela humanidade trabalhadora com um preço inédito em vidas humanas, especialmente forte nos países que estiveram no centro desse adiamento: 20 milhões de mortos na União Soviética, 13 milhões na Alemanha. Isto sem contar a qualidade das mortes, que incluíram cenários de degradação humana como nunca tinham sido vistos na História: campos de concentração nazistas; câmaras de gás; políticas de extermínio total de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes mentais e muito mais.

Sessenta milhões de homens em armas, 50 milhões de mortes (a maioria na população civil) como resultado direto dos combates, ou "80 milhões de pessoas, se se contar também as que morreram por fome e doença (...) oito vezes mais do que na Primeira Grande Guerra"1: ao todo, aproximadamente, 4% da população mundial da época, e tudo isso, em escassos cinco anos. Os números da Segunda Guerra Mundial estão aí para demonstrar a validade da alternativa histórica que Rosa Luxemburgo colocara imediatamente após a Primeira Guerra Mundial: "Socialismo ou Barbárie".

Embora os números não expressem a qualidade das mortes, eles refletem a quantidade dos massacres absurdos da população civil, desnecessários do ponto de vista militar, levados adiante por todos os principais protagonistas da guerra, mas especialmente pelos "democratas" Aliados, a exemplo do inútil bombardeio da cidade alemã de Dresden (quando a capitulação da Alemanha já era questão de horas), ou das bombas atômicas lançadas sobre Hiroxima e Nagasaki, com suas centenas de milhares de mortos civis e seus efeitos ainda sensíveis décadas depois, isto em condições em que, segundo a insuspeita opinião de Winston Churchill,
... seria um erro supor que o destino do Japão foi decidido pela bomba atômica. A derrota do Celeste Império já estava assegurada antes de ser lançada a primeira bomba2.
Ou ainda, a moderada reflexão retrospectiva de Jean Lacouture:
Se a primeira bomba, pelo seu efeito de terror, podia ter o objetivo de desalentar os japoneses e evitar aos Estados Unidos a lenta reconquista e o meio milhão de homens que talvez teria custado, a segunda teve um caráter de experimento científico às custas de cem mil vidas. Não acredito que a bomba atômica tenha justificativas (...) a eleição do Japão para o lançamento da bomba me parece racista: em circunstâncias semelhantes às existentes no Japão, os norte-americanos não teriam ousado lançá-la sobre uma cidade alemã3.
De fato, o racismo não foi patrimônio exclusivo dos nazistas, assim como as experiências científicas do Dr. Mengele em Auschwitz (ou de seu equivalente japonês, a Unidade 731 do norte da China). Os Estados Unidos acabam de reconhecer oficialmente ter submetido a provas nucleares mais de 600 pessoas no seu próprio território durante a Segunda Guerra, incluindo dezoito norte-americanos que morreram depois de ter recebido injeções de plutônio4. O racismo e a barbárie foram multidirecionais.

Racismo, barbárie, o assassinato em massa de civis como política sistemática, e isto da parte de todas as potências envolvidas; é evidente que uma guerra com estas características é qualitativamente diferente das anteriores. Para explicar as suas causas (e o seu desfecho), não basta referir-se aos objetivos estratégicos nacionais dos países ou blocos envolvidos. Se "a guerra é a continuação da política por outros meios", esquece-se que o autor da sentença, Karl von Clausewitz, não reduzia a política (nem, portanto, a própria guerra) à expressão dos interesses dos Estados nacionais:
Afirmamos que a guerra não é um domínio das artes ou das ciências, mas um elemento do tecido social. Constitui um conflito de grandes interesses solucionado de maneira sangrenta, o que a diferencia de todos os outros conflitos. Antes de comparar a guerra com uma arte qualquer, caberia fazê-lo com o comércio, que é também um conflito de atividades e interesses humanos, e inclusive se assemelha muito à política, que por sua vez pode ser considerada como uma espécie de comércio em grande escala. A política é a matriz em que se desenvolve a guerra5.
Do ponto de vista dos interesses estratégicos em jogo, no quadro do sistema imperialista, não era difícil caracterizar a causa da Primeira Guerra Mundial como sendo:
... a rivalidade entre os impérios coloniais velhos e ricos: a Grã-Bretanha e a França, e os bandidos imperialistas atrasados: Alemanha e Itália6.
Dessa forma,
A contradição econômica mais forte que conduziu à guerra de 1914-1918 foi a rivalidade entre a Grã-Bretanha e a Alemanha. A participação dos Estados Unidos na guerra foi uma medida preventiva7.
Na Segunda Guerra, porém, a participação dos Estados Unidos não foi preventiva, mas central, embora existisse uma forte corrente isolacionista no seio da classe dominante americana até dezembro de 1941 (ataque japonês a Pearl Harbor), que marcou seu ingresso na guerra. Até esse momento, a política americana com relação ao Japão era ambígua, e o mesmo pode-se dizer com relação à Alemanha hitlerista (o que desmente a visão ideológica retrospectiva de uma guerra da democracia contra o fascismo), isto ao ponto de Hitler ter como um de seus objetivos principais, já em plena guerra, a manutenção da neutralidade dos Estados Unidos.

Postado por: Jardel Oliveira

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