Os veteranos dessa guerra comemoram hoje uma data especial. Há precisamente setenta anos, no dia 23 de agosto de 1943, terminou a Batalha de Kursk, que durou quarenta e nove dias. Os combates envolveram cerca de dois milhões de efetivos, seis mil tanques e quatro mil aviões. Até essa altura, a Rússia tinha perdido extensões enormes do seu território e sofrido prejuízos gigantescos. Isso obrigou o país e o seu exército a se mobilizar ao máximo e a desferir ao inimigo um golpe demolidor no setor Kursk-Orlov, no verão de 1943. A vitória das tropas soviéticas em Kursk foi decisiva na alteração do rumo da Segunda Guerra Mundial.
Por toda a Rússia se realizam comemorações solenes dedicadas ao 70º aniversário da Batalha de Kursk. Essa data recebeu um estatuto de comemoração nacional. Os historiadores, contudo, continuam a debater quem terá vencido a batalha. Do ponto de vista formal, o campo de Prokhorovka continuou nas mãos dos alemães. Mas também Borodino, em 1812, tinha ficado em poder dos franceses.
No fim da campanha de inverno de 1942–43, as tropas hitlerianas "lambiam as feridas" depois da Batalha de Stalingrado. Apesar de, na primavera, elas terem conseguido desferir um pesado golpe nas tropas russas no sudoeste e recuperar Kharkov, que tinha sido libertada, já não estavam porém em condições de realizar ofensivas mais substanciais.
O Exército Vermelho, depois de Stalingrado sentia a necessidade de complementar seus recursos e de se reequipar com material novo. Ainda mais importante era a preparação da campanha de verão. Nessa situação, era importante descortinar a direção da ofensiva principal.
A ofensiva mais vantajosa para as tropas nazistas seria na saliência entre Kursk e Orlov, onde o Exército Vermelho tinha penetrado 150 quilômetros na frente alemã. Hitler apelidou a futura operação de Operação Cidadela. O planejamento estava a cargo do seu estratego principal, o marechal-de-campo Erich von Manstein. Foi, aliás, ele próprio que qualificou a derrota de Kursk como "o colapso da Wehrmacht". Estava previsto que dois poderosos ataques nos flancos iriam permitir aos alemães cercar as tropas soviéticas e abrir o caminho, primeiro em direção Kursk, e depois em direção a Moscou.
O comando supremo do Exército Vermelho também tinha chegado à conclusão que a direção de Kursk seria a principal durante a campanha de verão. Era necessário construir linhas defensivas, assim como acumular meios não só defensivos, mas também ofensivos. A fase da ofensiva seria decisiva. É verdade que o comando soviético cometeu um erro. O Estado-Maior considerou que o ataque principal seria realizado ao flanco norte, onde se situava a Frente Central comandada pelo general de exército Konstantin Rokossovski. O flanco sul, a cargo da Frente de Voronej comandada pelo general de exército Nikolai Vatutin, teria um papel secundário. Na retaguarda foi organizada a Frente da Estepe, de reserva, comandada pelo coronel-general Ivan Konev.
Já nos primeiros dias da batalha, que teve início a 5 de julho, se tornou claro que as tropas nazistas tinham concentrado suas forças principais no sul. As unidades da Frente de Voronezh aguentaram com firmeza e, enquanto decorria o reagrupamento de forças, conseguiu se manter pelos seus próprios meios, mas em alguns locais teve de ceder até 35 quilômetros. Os alemães aumentavam a pressão. No dia 12 de julho, o general Vatutin lançou no combate o 5º Exército Blindado do general Rotmistrov. As divisões de blindados de elite das SS e os tanques soviéticos entraram num combate frente a frente junto da aldeia de Prokhorovka. Nesse combate participaram mais de mil tanques de ambos os lados. As perdas foram enormes. O historiador militar e escritor Vassili Zhurakhov, de Belgorod, apresenta a sua análise desses acontecimentos:
"Stalin pensava que as tropas de Vatutin poderiam não aguentar porque tinham pela frente as divisões de blindados de elite das SS Totenkopf (Caveira), Grossdeutschland (Grande Alemanha) e Adolf Hitler. Se as nossas tropas não aguentassem, esses tanques seriam enfrentados pela Frente da Estepe. Esta tinha um papel duplo. Em caso de rutura da frente pelos alemães, eles iriam impedir seu avanço. Mas Vatutin conseguiu aguentar esse ataque e mesmo passar à contraofensiva. Assim, as tropas da Frente da Estepe foram enviadas em seu auxílio. Eram forças completamente frescas, poderosas e com material novo."
O resultado principal da batalha foi que as tropas hitlerianas começaram a retirar e desistiram de avançar sobre Kursk. A partir dessa altura, teve início a fase de ofensiva. Foi quando em Moscou foi lançado o primeiro fogo-de-artifício de vitória em honra da libertação de Belgorod e de Kharkov. Para muitos combatentes esse acontecimento foi uma surpresa. Estas são as memórias do antigo mecânico de aviões e participante da Batalha de Kursk Nikolai Sologub:
"O avião tinha rádio e nós ouvimos um aviso que ia ser lida uma declaração oficial importante. Repetiram várias vezes pela rádio que ia ser lida uma declaração oficial importante. Até pensamos se os alemães não teriam utilizado substâncias tóxicas. Mas afinal era a comunicação do decreto do comandante-supremo sobre a primeira salva de vitória."
As tropas soviéticas, depois da Batalha de Kursk, nunca mais perderam a iniciativa estratégica. Oficialmente é considerado que a batalha terminou a 23 de agosto, ou seja, durou 49 dos 1418 dias que durou a guerra contra a Rússia. O Exército Vermelho continuou a derrotar o inimigo sem parar depois da Batalha de Kursk. Já em setembro, as tropas da Frente de Voronej atingiram o rio Dnepr, e no dia 6 de novembro foi libertada a cidade de Kiev, capital da Ucrânia.
Por ocasião da data dessa batalha decisiva, Prokhorovka foi visitada, a 12 de julho de 2013, pelo presidente da Federação Russa Vladimir Putin e, no dia 23 de agosto, Kursk deverá esperar o primeiro-ministro Dmitri Medvedev.
Postado por: Jardel Olliveira
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