Apesar de ser mais conhecido por queimar livros, Adolf Hitler era um
ávido leitor – estima-se que suas três bibliotecas pessoais tivessem
cerca de 16 mil livros. Ele lia ao menos um livro por noite – às vezes
mais, conforme alegava, quase sempre fazendo anotações nas páginas e
colocando suas iniciais nas lombadas das edições.
Listamos 5 livros de sua coleção. As obras ajudaram a formar a
personalidade do Führer e moldar sua visão de mundo (uma dela consta,
inclusive, na lista de livros banidos durante sua ditadura).
1- “Berlin”, de Max Osborn – um guia arquitetônico e cultural da cidade banido pelo governo nazista
Era novembro de 1915, segundo ano da Primeira Guerra Mundial. Hitler,
com seus 26 anos, era então cabo do 16º Regimento de Infantaria de
Reserva Bávaro e atuava como mensageiro para o seu quartel-general.
Numa manhã fria e cinzenta, ele resolveu aproveitar o dia de folga para
comprar o guia arquitetônico e cultural de Osborn, um dos principais
críticos de arte da época na Alemanha e conhecido por seus comentários
irreverentes sobre estética e cultura. Hitler o tinha como um guia
nessa área. Apesar disso, Osborn era judeu, teve de emigrar para os EUA
e entrou na lista de autores proibidos na Alemanha, cujos livros foram
queimados. Mas o exemplar de Hitler foi preservado – e preservou no
meio de suas páginas um fio de bigode preto, encontrado em 2001, quando
o livro foi examinado pelo autor do livro “A biblioteca esquecida de
Hitler”.
2- “Peer Gynt”, de Henrik Ibsen – uma peça com capítulo introdutório escrito pelo mentor de Hitler
O ator Henrik Klausen como Peer Gynt na primeira encenação da peça, na Noruega, em 1876
O exemplar de Hitler do livro do famoso escritor norueguês traz um
capítulo introdutório de Dietrich Eckart, figura intelectual influente
em grande parte da Alemanha cuja adaptação de Peer Gynt foi uma das
produções teatrais mais bem-sucedidas da época, com mais de 600
apresentações só em Berlim. Em 1921, Eckart fez uma dedicatória
especial para Hitler e o presenteou com esse livro, chamando-o de
“querido amigo”. Pouca gente o considerava assim, mas Eckart era ainda
mais que isso. Ele foi o mentor do líder nazista e o apresentava aos
amigos dizendo: “Este homem é o futuro da Alemanha. Um dia o mundo
inteiro falará dele”. Eckart foi o responsável por dar forma e ardor ao
antissemitismo de Hitler. Ele tinha uma publicação semanal em que
incitava o ódio aos judeus e financiou editoras e organizações
antissemitas.
3- “Meu despertar político”, de Anton Drexler, em que o
fundador do Partido dos Trabalhadores Alemães conta como se converteu
ao antissemitismo
No tratado de 40 páginas, Anton Drexler, mecânico ferroviário que
fundou o Partido dos Trabalhadores Alemães (Deutsche Arbeiterpartei),
conta sobre a sua conversão ao nacionalismo radical e antissemita. Ali,
ele alega ter detectado uma suposta predominância da influência dos
judeus sobre a economia, as finanças, a imprensa, o movimento
bolchevique e a crise do reforço de guerra da Alemanha. Ela acusava os
judeus de serem “o verdadeiro inimigo de todos os trabalhadores” e
defendia abertamente o seu extermínio. Hitler ganhou o livro do próprio
Drexler em uma reunião do Partido, em 1919, e se identificou com as
idéias e os sentimentos colocados ali. Poucos dias depois, foi aceito
no partido.
4- “Schlieffen: um estudo de sua vida e caráter para o povo
alemão”, de Hugo Rochs – um livro sobre virtudes prussianas que
orientou militarmente o líder nazista
O conde Alfred Graf von Schlieffen
O livro, publicado em 1921, se declara um “estudo de caráter” do
lendário conde da Prússia Alfred von Schlieffen , que atuou na Guerra
Franco-Prussiana e ficou conhecido pela genialidade estratégica. Quem
escreveu foi seu médico pessoal, que não pretendia fazer apenas uma
biografia do paciente: ele queria que isso servisse como um estudo do
caráter do inteiro povo alemão, apresentando o conde como a
corporificação das virtudes prussianas, como diligência, modéstia e
humanidade. Hitler ganhou seu exemplar em 1940 do seu diretor de
assuntos sociais, Artur Kannenberg, que marcou diversos trechos para
que o ditador lesse. Hitler leu tudo atento, fazendo outras marcações
com lápis. Alguns desses trechos falam da necessidade de uma guerra em
duas frentes para a Alemanha: de um lado, contra Inglaterra e França, e
de outra contra a Rússia. Essas marcações se tornaram os primeiros
indícios da intenção de Hitler de promover uma invasão na Rússia.
Naquele mesmo ano, ele começaria uma operação na frente oriental.
5- Obras completas de Shakespeare, em tradução alemã de 1925 – fonte de inspiração e de frases de efeito
Era uma coleção que pretendia tornar a grande literatura disponível
ao público alemão em geral. Os livros de Hitler estão encadernados à
mão em couro marroquino, com uma águia estampada em ouro com as
iniciais A e H aos seus pés na lombada. Hitler considerava Shakespeare
superior a Goethe e Schiller em todos os aspectos, pois reclamava que
os dois alemães desperdiçavam seu talento em histórias de crises da
meia-idade e rivalidade entre irmãos. “Ser ou não ser” era uma de suas
frases favoritas. Ele chegou a desenhar com detalhes um palco para o
primeiro ato de Júlio César e ameaçou mais de uma vez seus oponentes
com a advertência feita a Brutus após o assassinato de César: “Nos
encontraremos de novo em Philippi”.
As informações foram tiradas do livro “A biblioteca esquecida de Hitler”, de Timothy W. Ryback, publicado
pela Companhia das Letras. Para mais curiosidades sobre o ditador: “O
arquivo de Hitler”, Patrick Delaforce, Panda Books.
Postado por: Fátima Leiliana
http://asegundaguerramundial.wordpress.com/2010/11/22/5-livros-encontrados-na-biblioteca-de-hitler/
Nenhum comentário:
Postar um comentário